terça-feira, 29 de maio de 2007

PROTOCOLO DA 12ª SESSÃO

22 de Maio de 2007

Participantes:
Prof. Mendo Castro Henriques
André Luís Gomes Martins
António Fernando Teixeira Cardoso
Bruno José Martins Domingos
Carlos Manuel Lopez Rodriguez
Edgar Paulo Cadir
Fernando Manuel Marques Apolinário
Francisco Manuel Narciso
João Paulo Machado de Freitas
José Salvador Tivane
Júlio César de Magalhães Pereira
Martiniano Pedro Moutinho Rato
Paulo Alexandre Alves
Quintimo Manuel Trinchete
Ruben Dario Romero Ribeiro

A sessão iniciou-se com a leitura, debate e correcção do protocolo da sessão anterior. É conveniente lembrar a necessidade de cada um dos protocolos indicar com precisão o número da sessão a que se refere, a respectiva data e a assinatura do participante que o elaborou.
A primeira parte da sessão foi dedicada ao Blog do seminário e foi expresso, uma vez mais, o desejo de que cada interveniente colabore activamente nele. A participação activa engloba dois elementos: a produção e afixação de conteúdos e comentários (elemento que será tido em conta na avaliação global final) e a recepção usufrutuária dos conteúdos e comentários dos restantes pares. Este último aspecto foi focado partindo de uma expressão atribuída a Hegel que dizia ser a leitura matinal dos jornais diários a sua oração matutina. Com efeito, a forma como a generalidade dos blogs se desenrola remete-nos para o conceito da antiga meditação monástica.
Deixam-se à consideração dos intervenientes alguns aspectos a seguir propostos:
1) O uso do Blog deve ser frequente. A meditação individual era quotidiana. Tanto a meditação realizada de forma pessoal, como a oração comunitária das diversas Horas canónicas acompanhavam de forma permanente a vida dos mosteiros. Se o uso do Blog não for frequente poderá perder a sua vitalidade e actualidade e tornar-se um elemento desencarnado da realidade vivida no Seminário.
2) O Blog é sempre um acto que radica da experiência comunitária do Seminário. A meditação e toda a Liturgia das Horas tem o seu fundamento na experiência comunitária central da Eucaristia e procura mante-la viva ao longo das restantes horas do dia, chegando mesmo a substituí-la quando esta não se pode realizar. Assim, deve ser o Blog para o Seminário: uma possibilidade de continuidade da investigação e dos debates ocorridos aquando da reunião semanal dos seus participantes. Mais, poderá ser um bom substituto dela durante a interrupção lectiva para os exames da época de Verão.
3) As postagens devem ser concisas e interpelantes. Tanto a meditação individual como os momentos de meditação dentro das Horas canónicas distinguem-se da Lectio Divina e da leitura das Lições pelo facto de terem na sua base pequenas perícopas bíblicas que deviam servir de interpelação ao movimento da consciência orante que sobre elas se debruça em profundidade, mais do que em amplitude. Esta ruminatio da Palavra deve ser imitada na leitura do Blog e os conteúdos afixados devem, na sua forma e conteúdo, servir esse objectivo.
4) Os títulos devem espelhar o insight fundamental de cada uma das postagens. De cada meditação, aquele que faz a experiência orante deve trazer consigo um chavão que o remeta de forma evidente para o eco que a Palavra produziu no seu Espírito (o chamado "ramalhete espiritual"). Os títulos, tal como o "ramalhete espiritual", devem por em evidência o elemento mais significativo do qual a postagem é reflexo, ou para o qual a postagem nos remete e perpetuar nos sentidos o cerne da mensagem proposta.
Tendo em conta estes elementos, um Blog poderá ser um instrumento poderoso na luta que o "tempo lento" da reflexão, indispensável à maturação de qualquer movimento do pensamento e da consciência, trava contra a sucessão de momentos desencarnados do "tempo rápido" da vida hodierna.
A segunda parte do seminário debruçou-se sobre a relevância da questão acerca do conhecimento científico no âmbito do Seminário de Filosofia da Consciência em Bernard Lonergan. Porque razão é essa questão importante e porque a devemos tratar? A resposta é evidente se tivermos em conta o contexto do pensamento actual que se desenvolve no seio de uma sociedade em que o horizonte do conhecimento e da acção é o tecnológico.
As sociedades antigas eram sociedades cosmológicas, isto é, viviam no horizonte do cosmológico. As sua organização e estruturas basilares acentavam na procura da imitação da ordem pré-estabelecida no Cosmos. Habitualmente o poder era exercido de forma suprema por um rei estabelecido à imagem do ser absoluto divino que presidia ao cosmos. Os restantes elementos da organização social, de castas e de rituais sagrados eram definidos de acordo com o que era observado empiricamente nas realidades cósmicas e celestes.
Tudo isso é hoje passado e foi definitivamente ultrapassado pelo horizonte tecnológico. A ciência com base no método empírico da experimentação permitiu ao Homem a criação de técnicas e maquinaria que transformaram de forma radical as acções humanas e ampliaram exponencialmente as expectativas que o Homem tem da sua existência.
As capacidades dos sentidos humanos podem ser melhoradas, veja se o exemplo comum dos óculos. Alguém com problemas de visão não está hoje resignado à aceitação da sua maleita, aliás, produzem-se óculos capazes de corrigir e aumentar as suas expectativas face à capacidade visual. Mais, do primordial par de lunetas passou-se para a implantação de lentes artificiais no olho humano e do simples telescópio de lentes chegou-se até ao telescópio espacial colocado em órbita.
No domínio do conhecimento as ferramentas progrediram também de forma prodigiosa. Veja-se o uso quotidiano que nos fazemos do computador pessoal e de todas as suas ferramentas de tratamento e comunicação de dados... A web... E que surpresas nos trarão as investigações no âmbito da robótica e da inteligência artificial ?...
A este propósito emergiu no debate o pensamento de Gaston Bachelard que compreende a máquina como um teorema coisificado. A técnica é uma aplicação da ciência, isto é, a ciência feita coisa. As máquinas são criações do Homem que procuram liberta-lo das dificuldades de realizar uma tarefa. As máquinas da modernidade cumprem essa missão de tal forma que as expectativas das sociedades actuais são de uma ordem inaudita.
Na perspectiva enunciada, a revolução industrial em curso pressupõe uma uma revolução cientifica - que é simultaneamente sua possibilidade e causa - e remete-nos para uma questão do âmbito da antropologia filosófica (e, no fundo também da axiologia e da ética). Trata-se da reflexão acerca das novas expectativas do ser humano e, em particular, do facto de algumas delas poderem interferir de forma a causar transformações permanentes na identidade do ser humano e do seu cosmos.
Hans Jonas, na sua obra Das Prinzip Verantwortung: Versuch einer Ethik fur die tecnologische Civilisation (ver BUJPII), elege três realidades que são pressupostos novos para a antropologia filosófica:
1) as armas de destruição em massa, em particular a bomba atómica ou nuclear;
2) a industrialização acelerada e subsequentes emissões de carbono que podem provocar danos ambientais muito severos;
3) engenharia genética.
Estes três factos modificaram radicalmente a escala da intervenção humana. Actualmente a humanidade pode destruir-se até ao ponto da aniquilação, pode mudar radicalmente a natureza do seu planeta e, desde 14 de Abril de 2003, tem na sua posse o seu mapa genético completo!
No passado, a ética pedia-nos para sermos bons, justos, livres... Hoje, essa perspectiva foi sobremaneira ultrapassada. A nova ética reduziu a panóplia de princípios a um só: não importa o 'ser bom', o 'ser justo' ou o 'ser livre', mas sobretudo o 'ser', isto é, o 'existir', ou, dito de outro modo, importa a manutenção das condições da natureza humana. Jonas contraria as possibilidades tecnológicas de perversão da natureza humana em geral e sustenta a permanência da natureza humana em termos compatíveis com a visão criacionista.
Homem não queiras criar o homem à tua imagem!

1 comentário:

mch disse...

Um protocolo exemplar porque completa as informações da sessão