terça-feira, 24 de julho de 2007

Milagres, factos históricos?

Em primeiro lugar gostaria depedir perdão por não ter tido nehuma contribuição ultimamente, mas não tenho tido acesso à internet.

Tal não significa que o meu estudo de Lonergan tenha parado, tendo agora começado a leitura de outra obra do autor, que faz um pouco a ponte entre a filsofia da consciência presente em Insight e a Teologia, que é, queiramos ou não, o ponto fundamental do nosso curso. Falo obviamente de Method in Theology, onde Lonergan aplica os preceitos transcendentais da consicência, a saber, sê atento, sê inteligente, sê razoável, sê responsável, para estabelecer um método, designado também ele de transcendental. De seguida concretiza este método transcendental nas várias disciplinas, ou especialidades funcionais (functional specialities) da teologia.

O breve apontamento que gostaria de deixar hoje prende-se com o estudo dos milagres como facto histórico. Para o autor canadiano, a história não pode ser feita sem levar em linha de conta os próprios historiadores. É um mito falar da história como simples apresentação de factos que falam por si mesmos, sem levar em linha de conta que esses factos são selecionados por um historiador dentro dos que estão disponíveis, ou seja, dos que constituem a totalidade da História (entendida como a vivência concreta de cada um dos seres humanos em todos os lugares e instantes temporais).

Posto isto, para um historiador dar um facto como credível, o único instrumento de julgamento que ele tem à mão é a sua própria consciência. Se o historiador não for crente, então os milagres não passam de uma alucinação colectiva, pois é para ele mais fácil admitir que todas as pessoas que testemunharam, por exemplo, o milagre de Fátima, estavam de algum modo "alteradas" (self-deceived), do que admitir a possibilidade da existência de milagres. Tal mudança de atitude requeriria por parte do historiador uma conversão radical que ultrapassa em larga medida o exercício da sua actividade.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Portugal de ontem ou de hoje?


«Só um grande povo, com grandes ideais,

Coloca no céu o limite das suas aspirações.

O desejo de descobrir, de conhecer é tipicamente português.


O Português tem o céu no coração

As mãos criadoras na terra

Enchendo-a com o suor do seu trabalho

E tem os olhos no mar

No qual, um dia pensou poder conquistar o céu.


Por ele lutou,

mostrando que ser português

É ser um guerreiro sonhador em busca do limite

Que quer conquistar,

Para o fazer seu e de quantos por ele lutaram.»

terça-feira, 10 de julho de 2007

Extrato Do Trabalho sobre a possibilidade da Ética

A POSSIBILIDADE DA ÉTICA SEGUNDO BERNARD LONERGAN
No presente trabalho iremos falar da possibilidade da ética segundo Bernard Lonergan. Sendo assim, seguiremos o seguinte esquema: A Noção De Bem, A Noção De Liberdade e O Problema Da Libertação. No capítulo sobre a Noção do bem iremos falar dos níveis de bem, a noção da vontade, a noção de vontade, a noção de valor, o método da ética e a ontologia do bem. Em relação a noção de Liberdade falaremos do significado dos resíduos estatísticos, o fluxo sensitivo subjacente, a intelecção prática, a reflexão prática, a decisão e a liberdade. E , no que respeita ao problema da Libertação, falaremos da liberdade essencial e efectiva, as condições da liberdade efectiva, as possíveis condições da sátira e do humor, a importância moral e o problema da libertação.
No sentido geral, ética, é uma disciplina filosófica que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir entre o bem e o mal. Por outro lado, entende-se por ética aos princípios morais por que um indivíduo rege a sua conduta pessoal ou profissional. Também designa-se por ética ao código deontológico, a moral e como sendo a ciência da moral. O termo provém do grego: ethiké [ o equivalente a epistéme], com o significado de ciência relativa aos costumes, e do latim ethica, no mesmo sentido grego.
1. A NOÇÃO DE BEM
No sentido geral, o conceito de bem designa tudo aquilo que é conveniente, de modo agradável e que é socialmente irrepreensível. Designa tudo o que é justo, lícito, aquilo que é valioso segundo a moral. Também designa posses, aquilo que é útil para um determinado fim. Em Kant, o bem é a união da felicidade e da virtude; assim o bem absoluto é a boa vontade.
Segundo Bernard Lonergan, o ser é inteligente e uno, e por isso mesmo é também bom. Mas enquanto a inteligibilidade e a unidade do ser resultam, espontaneamente, de que o ser é tudo o que se capta inteligivelmente e se afirma razoavelmente, a bondade do ser apenas se esclarece ao considerar-se a extensão da actividade intelectual que denominamos a deliberação e decisão, a escolha, e vontade.
1.1 Níveis de Bem
Numa primeira fase, o bem surge como objecto do desejo; ao alcançar-se, experimenta-se como prazer, alegria, satisfação. Mas o homem experimenta tanto a aversão como o desejo, a dor e o prazer; nesta fase primária e empírica o bem está em união com o seu oposto, o mal.
O desejo de saber torna-se o único dos desejos humanos que é desprendido, desinteressado e irreprimível, possui a sua satisfação. O desejo de saber vai além do prazer na própria intelecção para a subsequente questão de saber se a própria intelecção está correcta. Através deste desejo e do conhecimento que gera, emerge um segundo sentido de bem. Para além do bem que é puro objecto de desejo, há um bem de ordem. Tal é a comunidade política, a economia, a família como instituição.
O bem de ordem é dinâmico, não apenas no sentido de ordenar a revelação dinâmica de desejos e aversões, mas também no sentido em que é sistema em movimento. Possui a sua própria linha normativa de desenvolvimento, na medida em que os elementos da ideia de ordem são captados pela intelecção em situações concretas, são formulados em proposições, são aceites por concordância explicitas ou tácitas, e são executados apenas para alterar a situação e para originar novas intelecções.
O desenvolvimento social seria uma simples questão de desenvolvimento intelectual, caso a psykhé humana para ela não contribuísse; mas a natureza sensível do homem constitui os materiais dinâmicos a ordenar, e as condições subjectivas sob as quais a ordem é descoberta, comunicada, aceite e executada. É assim que a ordem social descobre nos desejos e aversões dos indivíduos e na intersubjectividade dos grupos um enormíssimo e poderoso aliado e uma permanente fonte de egoísmo e desvio de classe. O desvio não só constitui uma mudança na via principal de desenvolvimento como também origina as vias secundárias nas quais a humanidade se empenha em elaborar movimentos, a fim de se proteger contra os efeitos dos desvios anteriores, para corrigir os opositores e, no caso ideal, para atacar o desvio na raiz. Todavia, a preocupação com esta ideia implica uma transposição desta questão ao nível das polícias e dos tribunais, da diplomacia e da guerra, para o nível da cultura e da moralidade. Numa perspectiva de longo prazo, o senso comum não está `a altura deste desafio, visto que, além das aberrações individuais e grupais, está sujeito a um desvio geral contra as grandes preocupações e as últimas consequências.
Isto traz-nos ao terceiro aspecto do bem, que é o valor. O bem da ordem liga-se também a deliberação e escolha, além das numerosas manifestações de aversões e desejos. Assim, segundo Bernard Lonergan, individualismo e socialismo não são nem comida nem bebida, nem roupas nem abrigo, nem saúde nem riqueza. São construções da inteligência humana, sistemas para ordenar a satisfação dos desejos humanos. A humanidade pode optar por um sistema e rejeitar outros. Nisso, manifesta-se a inteligência humana não apenas como teórica mas também como prática, que está sempre à procura de discernir as possibilidades que revelam as coisas tal como possam ser. Porém, essas possibilidades são múltiplas. Deste modo, a capacidade inventiva da inteligência prática assegura resultados práticos apenas se houver a conjugação de potência, forma e acto de vontade, boa vontade e desejo, com função de seleccionar possibilidades de entre várias e, através dessa decisão e escolha, iniciar e fundamentar a transição de concepção intelectual de uma ordem possível para a realização concreta.
1.2 A Noção de Vontade
Em relação a noção de vontade, Bernard Lonergan diz que é o apetite intelectual ou espiritual: «will, then, is intellectual or spiritual appetite»
1.3 A Noção de Valor
1.4 O Método da Ética
1.5 A Ontologia do Bem

2. A NOÇÃO DE LIBERDADE
2.1 O Significado dos Resíduos Estatísticos
2.2 O Fluxo Sensitivo Subjacente
2.3 A Intelecção Prática
2.4 A Reflexão Prática
2.5 A Decisão
2.6 Liberdade
3. O PROBLEMA DA LIBERTAÇÃO
3.1 A Liberdade Essencial e Efectiva
3.2 As Condições da Liberdade Efectiva
3.3 As Possíveis Funções da Sátira e do Humor
3.4 Importância Moral
3.5 O Problema da Libertação

domingo, 8 de julho de 2007

A questão do "Darwinismo Social" [2ª parte]

Face a todos os problemas sociais do período pós revolução industrial, os apoiantes desta teoria consideravam os mais pobres como os menos adaptados, ou seja, os mais fracos, que não se souberam adaptar e os ricos como os mais fortes, adaptados. As implicações de tais concepções foram terríveis. A Eugenia, estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente, assim a definiu Francis Galton[1], um dos mentores da mesma, é o novo meio de selecção (agora, não natural) da espécie humana. O caso mais típico desta prática é durante o período Nazi, a exaltação da Raça Ariana e o extermínio das raças inferiores.
Esta teoria é hoje bastante condenada pela sociedade, em geral. Contudo, um fenómeno interessante e que, a meu ver, requer um profundo e sério estudo, é o ressurgir de grupos extremistas – anarquistas, fascistas, neo-nazistas, … – que voltam a defender estas práticas políticas, deploráveis para o Homem civilizado.Resta-nos perguntar sobre até que ponto esta concepção, da luta pela sobrevivência, da vitória dos fortes sobre os mais fracos, ainda não está presente, se bem que de forma camuflada, no sistema económico actual que, apregoando o progresso e a evolução da sociedade, faz aumentar a distância entre os poucos e muito ricos e ou muitos e muito pobres?
[1] Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, defendia que a criação de instituições públicas de bem-estar para os pobres, asilos e manicómios, para as pessoas com deficiências mentais, são instituições maléficas à sociedade, já que permitem que os seres humanos inferiores se reproduzam às vezes mais rápido que os seres humanos superiores.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A questão do "Darwinismo Social" [1ª parte]

Depois que Darwin apresentou as suas teses a respeito do desenvolvimento natural do Homem e das sociedades, alguns grupos de cientistas e sociólogos levaram-nas muito “à letra” e, em certo sentido, de forma errónea. O termo “Darwinismo social”, divulgado em 1944 pelo historiador Richard Hofstadter (principalmente), traduziu-se numa tendência geral em analisar o ponto evolutivo das civilizações daquela época, relacionando o grau de desenvolvimento com a sua capacidade de adaptação, e, por conseguinte, a considerar a existência de sociedades fracas e sociedades fortes, sendo as primeiras subjugadas ao poder das outras. No fundo, é a conversão de uma teoria biológica numa doutrina social que assiste à sua aplicação no âmbito político.
As conclusões desta mentalidade e ideologia extremista constituíram um retrocesso em todo o processo que vinha sendo feito em vista à igualdade e liberdade dos povos, à sua própria auto determinação, e as suas consequências práticas foram dramáticas, uma mancha triste na História da humanidade.
Os defensores do “Darwinismo Social” consideravam o povo Europeu o topo actual do desenvolvimento e os povos africanos, muito concretamente, mais atrasados (com menos capacidades que se reflectem nas condições e meios que têm) e portanto sujeitos ao poder do povo mais forte. Aqui a exclusão racial adquire um “pseudo” fundamento científico, o colonialismo, apesar de já decadente, parece receber novo vigor ou justificação.

Teremos ainda Portugal ?

"O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal… Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle?
Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhes pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?"

D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro

quinta-feira, 5 de julho de 2007

[Extracto do trabalho]

Lonergan apresenta quanto às Ciências a probabilidade emergente; quanto à realidade e ao próprio homem a evolução; quanto ao conhecimento um processo que vai do não conhecido ao conhecido ou do não consciente ao consciente. Com muita novidade, Lonergan parte das concepções Aristotélicas de Potência – Forma – Acto; da nova noção de evolução (desenvolvimento) de Darwin; para tratar, em última análise, tudo aquilo que faz parte do conhecimento humano. Desde a Microfísica à Metafísica, desde a Ontologia e Antropologia Filosófica à Teologia Filosófica, desde a Gnoseologia à Psicologia, passando pela Moral, desde a Ciência à Filosofia, Lonergan pretende fazer uma reconciliação entre todos estes saberes presentes no Homem, tantas vezes separados ao longo dos séculos, e fá-lo através da Unidade existente no próprio Homem, sustentada pela noção de Desenvolvimento.