segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O "conhecido desconhecido"

A quarta grande unidade temática do livro Inteligência arranca do que Lonergan designa como o ‘conhecido desconhecido’. Se Descartes pediu à filosofia um método rigoroso, Hegel exigiu-lhe que explicasse não só a posição própria como a existência de posições contrárias. O elemento a priori da análise cognitiva deve ser completado pelo elemento a posteriori dos dados históricos. Como as questões são em número superior às respostas encontradas, “sabemos que não sabemos”. Como a mente humana tem facetas emotivas, o desconhecido aparecerá estranho e misterioso em oposição ao familiar e previsível. É o domínio do mistério e do mito de que se ocupam a história da cultura e a religião.[1]
O problema da interpretação reside em compreender, de modo objectivo, a significação das palavras, e acções, em qualquer tempo e lugar, e como sendo uma expressão das fases da evolução do conhecimento humano de si e do mundo. O objectivo de qualquer interpretação é comunicar o acto de consciência principal do dado interpretado. Ora isso depende do autor, do intérprete e da audiência e exige uma interpretação reflexiva. A interpretação reflexiva atende ao contexto mas tem de contar com que as audiências variam com a cultura e o desenvolvimento intelectual. Existe um sentido histórico como existe um sentido comum para o nosso tempo e espaço. Mas o sentido ou experiência histórica também é susceptível de adulterações. Por isso, é preciso um método para conceber o desenvolvimento das audiências e uma técnica de expressão que escape à relatividade.
[1] Insight, p.554-571

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Eternamente me interrogarei!

Talvez sou do tipo que mais se interroga da sua própria razão de existir. De facto nada me impede de tal acto ou hábito. Sei que, na verdade, existe muita coisa ainda por aprender, e no peito pesa-me o mundo todo. Sinto nas costas o peso dos oceanos ao saber que todo o saber humano é passageiro, e por vezes me interrogo: Porque será que a ciência não é perfeita? E, lá do fundo, surge-me outra interrogação: Porque será que existem tantos termos para designar o Criador do Universo? Porque será que o homem não é perfeito aos olhos Desse Criador? Muitos divergem nas opiniões quanto ao conhecimento do Criador, outros divergem na perspectiva de olhar a condição humana de pecado,portanto, causada pela imperfeição do ser humano em si. Outros afirmam e lutam para alcançar a perfeição. Ora, vejamos, se o Criador é Todo-Omniponte, Sumamente Omnisciente, não será que tenha querido criar o homem na sua imperfeição? Porquê será que nos preocupamos tanto a procura da perfeição em vez da excelência?
Ora, se cada homem pensasse que seria capaz de alcaçar a perfeição aos olhos dos homens, de certeza que não-o seria aos olhos de Deus! E, se for o caso, não será que esta é a forma perfeita que Deus achou alguma vez atribuir aos seres criados por Si?
Não pretendo aqui pregar alguma heresia, nem jamais blasfémia, e muito menos uma nova ceita, apenas quero deixar a todos um desejo de ver as coisas de maneira positiva, sem nunca cair na teologia positiva.
Daqui surgem no fundo, questões como a não comunhão das religiões do mundo, pois cada uma quer afirmar-se melhor em deterimento da outra, agindo como aquela que mais de perfeito tem a imagem de Deus, como se as outars fossem meras assembleias de esquizofrénicos. No fundo disto venho colocar a possibilidade de cada um olhar o passado termo religião, no sentido de perceber como elas surgiram, não tendo uma visão polarizada ou dicotomizada, mas o sentido inicial do termo religião aparece como resposta à aquele ser humano que nos seus primórdios foi semnpre um ser com necessidade do espiritual (a busca do transcendente).E daí tirar partido não das suas concepções, mas daquilo que é a verdade, esta verdade que guia num bom sentido, e verá que nunca mais pegará em arma alguma para combater seja lá a quem for. Pois o transcendente requer não o desejo de vingança, o desejo de reconciliação e de amizade entre os homens.
Por enquanto termino por aqui o meu pensamento, ainda que confuso, mas acho que dá para despertar alguma coisa da nossa consciência.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Fé e Insight

Gostaria de assinalar como ultimamente, nomeadamente no seminário que estou a fazer este semestre com o professor Domingos Terra se tem falado de como a fé passa também por este click, ou seja, pelo insight. Foi pelo Insight de Cristo como o Ressuscitado que todos os apóstolos tiveram que passar. Por exemplo, São Tomé, na famosa passagem em que pede para ver, para depois crer, faz a sua confissão de fé (Meu senhor e meu Deus) depois de ver que todos os dados da realidade lhe apontavam para que Cristo tinha ressuscitado. no entanto, sem este Insight, tomé poderia ter ficado pelo facto de Cristo não ter, por exemplo, sequer chegado a morrer. o mesmo se passa com os milagres, em que nem todos os que presenciavam os mesmos factos (as curas, por exemplo) terem visto a Jesus como o messias. Para que o ser humano possa alcnçar este insight na sua plenitude é sempre necessário uma conversão. Para Lonergan, esta conversão é sempre tripla, a saber: intelectual, moral e religiosa.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A perspectiva universal

Do Epílogo de Inteligência,de Bernard Lonergan

Finalmente, embora exista uma metafísica latente comum a todas as mentes, também é comum uma interferência variável com o funcionamento apropriado do desejo puro de conhecer e, consequentemente, também é comum uma distorção da metafísica latente. A philosophia perennis está ladeada por contrafilosofias mais menos perenes. Tal como o desejo imparcial, desinteressado e irrestrito de conhecer é uma constante, também o são os princípios que interferem com o seu desdobramento. Por muito que as posições e as contraposições estejam em choque, uma análise dialéctica baseada numa teoria cognitiva suficientemente exacta pode conduzir a uma perspectiva universal que abranja simultaneamente (1) as posições na fase actual do seu desenvolvimento, (2) as posições em cada fase prévia do seu desenvolvimento, e (3) sucessivas contraposições do passado e do presente com as respectivas incoerências essenciais e a reivindicação que devem ser captadas de modo inteligente e afirmadas razoavelmente.
Em resumo, os conceitos mudam na medida em que as coisas mudam, na medida em que a compreensão humana se desenvolve, e na medida em que esse desenvolvimento é formulado de modo coerente ou incoerente. Mas por detrás de cada mudança, há uma unidade subjacente, e essa unidade pode ser formulada explicitamente ao nível da antecipação heurística ou do método conscientemente adoptado ou de uma metafísica dialéctica. Segue-se que as mudanças na conceitualização não implicam qualquer multiplicidade derradeira e que, por detrás da variação conceptual, existe uma constante conceptual que pode ser formulada numa perspectiva universal.
Finalmente, enquanto a noção da perspectiva universal foi trabalhada ao nível de uma metafísica dialéctica do ser proporcional, deve-se ter presente que recebe determinações adicionais nos nossos capítulos finais sobre o conhecimento transcendente. O conhecimento geral transcendente refere-se à condição final da possibilidade das posições, e o conhecimento transcendente especial refere-se à condição de facto da possibilidade de fidelidade humana às posições.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Milagres, factos históricos?

Em primeiro lugar gostaria depedir perdão por não ter tido nehuma contribuição ultimamente, mas não tenho tido acesso à internet.

Tal não significa que o meu estudo de Lonergan tenha parado, tendo agora começado a leitura de outra obra do autor, que faz um pouco a ponte entre a filsofia da consciência presente em Insight e a Teologia, que é, queiramos ou não, o ponto fundamental do nosso curso. Falo obviamente de Method in Theology, onde Lonergan aplica os preceitos transcendentais da consicência, a saber, sê atento, sê inteligente, sê razoável, sê responsável, para estabelecer um método, designado também ele de transcendental. De seguida concretiza este método transcendental nas várias disciplinas, ou especialidades funcionais (functional specialities) da teologia.

O breve apontamento que gostaria de deixar hoje prende-se com o estudo dos milagres como facto histórico. Para o autor canadiano, a história não pode ser feita sem levar em linha de conta os próprios historiadores. É um mito falar da história como simples apresentação de factos que falam por si mesmos, sem levar em linha de conta que esses factos são selecionados por um historiador dentro dos que estão disponíveis, ou seja, dos que constituem a totalidade da História (entendida como a vivência concreta de cada um dos seres humanos em todos os lugares e instantes temporais).

Posto isto, para um historiador dar um facto como credível, o único instrumento de julgamento que ele tem à mão é a sua própria consciência. Se o historiador não for crente, então os milagres não passam de uma alucinação colectiva, pois é para ele mais fácil admitir que todas as pessoas que testemunharam, por exemplo, o milagre de Fátima, estavam de algum modo "alteradas" (self-deceived), do que admitir a possibilidade da existência de milagres. Tal mudança de atitude requeriria por parte do historiador uma conversão radical que ultrapassa em larga medida o exercício da sua actividade.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Portugal de ontem ou de hoje?


«Só um grande povo, com grandes ideais,

Coloca no céu o limite das suas aspirações.

O desejo de descobrir, de conhecer é tipicamente português.


O Português tem o céu no coração

As mãos criadoras na terra

Enchendo-a com o suor do seu trabalho

E tem os olhos no mar

No qual, um dia pensou poder conquistar o céu.


Por ele lutou,

mostrando que ser português

É ser um guerreiro sonhador em busca do limite

Que quer conquistar,

Para o fazer seu e de quantos por ele lutaram.»

terça-feira, 10 de julho de 2007

Extrato Do Trabalho sobre a possibilidade da Ética

A POSSIBILIDADE DA ÉTICA SEGUNDO BERNARD LONERGAN
No presente trabalho iremos falar da possibilidade da ética segundo Bernard Lonergan. Sendo assim, seguiremos o seguinte esquema: A Noção De Bem, A Noção De Liberdade e O Problema Da Libertação. No capítulo sobre a Noção do bem iremos falar dos níveis de bem, a noção da vontade, a noção de vontade, a noção de valor, o método da ética e a ontologia do bem. Em relação a noção de Liberdade falaremos do significado dos resíduos estatísticos, o fluxo sensitivo subjacente, a intelecção prática, a reflexão prática, a decisão e a liberdade. E , no que respeita ao problema da Libertação, falaremos da liberdade essencial e efectiva, as condições da liberdade efectiva, as possíveis condições da sátira e do humor, a importância moral e o problema da libertação.
No sentido geral, ética, é uma disciplina filosófica que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir entre o bem e o mal. Por outro lado, entende-se por ética aos princípios morais por que um indivíduo rege a sua conduta pessoal ou profissional. Também designa-se por ética ao código deontológico, a moral e como sendo a ciência da moral. O termo provém do grego: ethiké [ o equivalente a epistéme], com o significado de ciência relativa aos costumes, e do latim ethica, no mesmo sentido grego.
1. A NOÇÃO DE BEM
No sentido geral, o conceito de bem designa tudo aquilo que é conveniente, de modo agradável e que é socialmente irrepreensível. Designa tudo o que é justo, lícito, aquilo que é valioso segundo a moral. Também designa posses, aquilo que é útil para um determinado fim. Em Kant, o bem é a união da felicidade e da virtude; assim o bem absoluto é a boa vontade.
Segundo Bernard Lonergan, o ser é inteligente e uno, e por isso mesmo é também bom. Mas enquanto a inteligibilidade e a unidade do ser resultam, espontaneamente, de que o ser é tudo o que se capta inteligivelmente e se afirma razoavelmente, a bondade do ser apenas se esclarece ao considerar-se a extensão da actividade intelectual que denominamos a deliberação e decisão, a escolha, e vontade.
1.1 Níveis de Bem
Numa primeira fase, o bem surge como objecto do desejo; ao alcançar-se, experimenta-se como prazer, alegria, satisfação. Mas o homem experimenta tanto a aversão como o desejo, a dor e o prazer; nesta fase primária e empírica o bem está em união com o seu oposto, o mal.
O desejo de saber torna-se o único dos desejos humanos que é desprendido, desinteressado e irreprimível, possui a sua satisfação. O desejo de saber vai além do prazer na própria intelecção para a subsequente questão de saber se a própria intelecção está correcta. Através deste desejo e do conhecimento que gera, emerge um segundo sentido de bem. Para além do bem que é puro objecto de desejo, há um bem de ordem. Tal é a comunidade política, a economia, a família como instituição.
O bem de ordem é dinâmico, não apenas no sentido de ordenar a revelação dinâmica de desejos e aversões, mas também no sentido em que é sistema em movimento. Possui a sua própria linha normativa de desenvolvimento, na medida em que os elementos da ideia de ordem são captados pela intelecção em situações concretas, são formulados em proposições, são aceites por concordância explicitas ou tácitas, e são executados apenas para alterar a situação e para originar novas intelecções.
O desenvolvimento social seria uma simples questão de desenvolvimento intelectual, caso a psykhé humana para ela não contribuísse; mas a natureza sensível do homem constitui os materiais dinâmicos a ordenar, e as condições subjectivas sob as quais a ordem é descoberta, comunicada, aceite e executada. É assim que a ordem social descobre nos desejos e aversões dos indivíduos e na intersubjectividade dos grupos um enormíssimo e poderoso aliado e uma permanente fonte de egoísmo e desvio de classe. O desvio não só constitui uma mudança na via principal de desenvolvimento como também origina as vias secundárias nas quais a humanidade se empenha em elaborar movimentos, a fim de se proteger contra os efeitos dos desvios anteriores, para corrigir os opositores e, no caso ideal, para atacar o desvio na raiz. Todavia, a preocupação com esta ideia implica uma transposição desta questão ao nível das polícias e dos tribunais, da diplomacia e da guerra, para o nível da cultura e da moralidade. Numa perspectiva de longo prazo, o senso comum não está `a altura deste desafio, visto que, além das aberrações individuais e grupais, está sujeito a um desvio geral contra as grandes preocupações e as últimas consequências.
Isto traz-nos ao terceiro aspecto do bem, que é o valor. O bem da ordem liga-se também a deliberação e escolha, além das numerosas manifestações de aversões e desejos. Assim, segundo Bernard Lonergan, individualismo e socialismo não são nem comida nem bebida, nem roupas nem abrigo, nem saúde nem riqueza. São construções da inteligência humana, sistemas para ordenar a satisfação dos desejos humanos. A humanidade pode optar por um sistema e rejeitar outros. Nisso, manifesta-se a inteligência humana não apenas como teórica mas também como prática, que está sempre à procura de discernir as possibilidades que revelam as coisas tal como possam ser. Porém, essas possibilidades são múltiplas. Deste modo, a capacidade inventiva da inteligência prática assegura resultados práticos apenas se houver a conjugação de potência, forma e acto de vontade, boa vontade e desejo, com função de seleccionar possibilidades de entre várias e, através dessa decisão e escolha, iniciar e fundamentar a transição de concepção intelectual de uma ordem possível para a realização concreta.
1.2 A Noção de Vontade
Em relação a noção de vontade, Bernard Lonergan diz que é o apetite intelectual ou espiritual: «will, then, is intellectual or spiritual appetite»
1.3 A Noção de Valor
1.4 O Método da Ética
1.5 A Ontologia do Bem

2. A NOÇÃO DE LIBERDADE
2.1 O Significado dos Resíduos Estatísticos
2.2 O Fluxo Sensitivo Subjacente
2.3 A Intelecção Prática
2.4 A Reflexão Prática
2.5 A Decisão
2.6 Liberdade
3. O PROBLEMA DA LIBERTAÇÃO
3.1 A Liberdade Essencial e Efectiva
3.2 As Condições da Liberdade Efectiva
3.3 As Possíveis Funções da Sátira e do Humor
3.4 Importância Moral
3.5 O Problema da Libertação

domingo, 8 de julho de 2007

A questão do "Darwinismo Social" [2ª parte]

Face a todos os problemas sociais do período pós revolução industrial, os apoiantes desta teoria consideravam os mais pobres como os menos adaptados, ou seja, os mais fracos, que não se souberam adaptar e os ricos como os mais fortes, adaptados. As implicações de tais concepções foram terríveis. A Eugenia, estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente, assim a definiu Francis Galton[1], um dos mentores da mesma, é o novo meio de selecção (agora, não natural) da espécie humana. O caso mais típico desta prática é durante o período Nazi, a exaltação da Raça Ariana e o extermínio das raças inferiores.
Esta teoria é hoje bastante condenada pela sociedade, em geral. Contudo, um fenómeno interessante e que, a meu ver, requer um profundo e sério estudo, é o ressurgir de grupos extremistas – anarquistas, fascistas, neo-nazistas, … – que voltam a defender estas práticas políticas, deploráveis para o Homem civilizado.Resta-nos perguntar sobre até que ponto esta concepção, da luta pela sobrevivência, da vitória dos fortes sobre os mais fracos, ainda não está presente, se bem que de forma camuflada, no sistema económico actual que, apregoando o progresso e a evolução da sociedade, faz aumentar a distância entre os poucos e muito ricos e ou muitos e muito pobres?
[1] Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, defendia que a criação de instituições públicas de bem-estar para os pobres, asilos e manicómios, para as pessoas com deficiências mentais, são instituições maléficas à sociedade, já que permitem que os seres humanos inferiores se reproduzam às vezes mais rápido que os seres humanos superiores.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A questão do "Darwinismo Social" [1ª parte]

Depois que Darwin apresentou as suas teses a respeito do desenvolvimento natural do Homem e das sociedades, alguns grupos de cientistas e sociólogos levaram-nas muito “à letra” e, em certo sentido, de forma errónea. O termo “Darwinismo social”, divulgado em 1944 pelo historiador Richard Hofstadter (principalmente), traduziu-se numa tendência geral em analisar o ponto evolutivo das civilizações daquela época, relacionando o grau de desenvolvimento com a sua capacidade de adaptação, e, por conseguinte, a considerar a existência de sociedades fracas e sociedades fortes, sendo as primeiras subjugadas ao poder das outras. No fundo, é a conversão de uma teoria biológica numa doutrina social que assiste à sua aplicação no âmbito político.
As conclusões desta mentalidade e ideologia extremista constituíram um retrocesso em todo o processo que vinha sendo feito em vista à igualdade e liberdade dos povos, à sua própria auto determinação, e as suas consequências práticas foram dramáticas, uma mancha triste na História da humanidade.
Os defensores do “Darwinismo Social” consideravam o povo Europeu o topo actual do desenvolvimento e os povos africanos, muito concretamente, mais atrasados (com menos capacidades que se reflectem nas condições e meios que têm) e portanto sujeitos ao poder do povo mais forte. Aqui a exclusão racial adquire um “pseudo” fundamento científico, o colonialismo, apesar de já decadente, parece receber novo vigor ou justificação.

Teremos ainda Portugal ?

"O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal… Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle?
Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhes pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?"

D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro

quinta-feira, 5 de julho de 2007

[Extracto do trabalho]

Lonergan apresenta quanto às Ciências a probabilidade emergente; quanto à realidade e ao próprio homem a evolução; quanto ao conhecimento um processo que vai do não conhecido ao conhecido ou do não consciente ao consciente. Com muita novidade, Lonergan parte das concepções Aristotélicas de Potência – Forma – Acto; da nova noção de evolução (desenvolvimento) de Darwin; para tratar, em última análise, tudo aquilo que faz parte do conhecimento humano. Desde a Microfísica à Metafísica, desde a Ontologia e Antropologia Filosófica à Teologia Filosófica, desde a Gnoseologia à Psicologia, passando pela Moral, desde a Ciência à Filosofia, Lonergan pretende fazer uma reconciliação entre todos estes saberes presentes no Homem, tantas vezes separados ao longo dos séculos, e fá-lo através da Unidade existente no próprio Homem, sustentada pela noção de Desenvolvimento.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Possibilidade da Ética

Informo que ainda estou a fazer o trabalho sobre a possibilidade da ética segundo Bernard Lonergan, enquanto aguardo a resposta da diretoria e do Professor Doutor Mendo, já enviei o requerimento ontem ao director da Faculdade, mencionando os pormenores.

Bem Haja a todos os Livres Pensadores, discípulos encantados de Bernard Lonergan que, acima de tudo comoveu-me tanto, apesar de ter dado ao torno no final do semestre.

Edgar Paulo Cadir

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Inteligência: Um estudo do conhecimento humano, 1957

Nos anos seguintes a 1949, Lonergan ocupou-se com a redacção de Inteligência: Um estudo do conhecimento humano, publicado em 1957. O livro tem 875 páginas na edição definitiva, da Universidade de Toronto; são muitos os que confessam nunca o ter lido por inteiro e poucos o leram completamente. É, de facto, um tratado filosófico que pretende levar a cabo uma integração dos conhecimentos humanos, tal como se apresentavam em meados do séc. XX, com uma soma e complexidade que ultrapassava em muito as situações epistemológicas racionalizadas por Platão e Leibniz.[1] O escopo da obra é imenso: «A auto apropriação da nossa auto-consciência intelectual e racional começa como teoria cognitiva, expande-se para uma metafísica e uma ética, e avança para uma concepção e uma afirmação de Deus, para ser finalmente confrontada com o problema do mal que exige a transformação da inteligência auto-confiante no intellectus quaerens fidem.»[2]. Se de facto cumpriu estes objectivos, Inteligência tornou-se a mais importante obra de filosofia do séc. XX, como aqui procurarei indicar, apontando muito sucintamente as cinco principais temáticas da obra: a relação entre conhecimento e realidade, conhecimento científico e cosmologia, a acção humana e a ética, as questões de interpretação, a relação entre natureza de Deus e filosofia.
[1] O modelo que usa de formação da personalidade baseia-se em psicólogos de vanguarda como Erik Erikson e Abraham Maslow.
[2] Epílogo

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Extracto da "Nota introdutória" do meu trabalho

É neste Ser que deseja conhecer desinteressadamente, que conhece apaixonadamente e que anseia naturalmente por ser conhecido[1] que o desenvolvimento se dá de forma consciente[2]; é nesta realidade que flui, que se adapta e se adequada[3] que o desenvolvimento se dá de forma inconsciente[4], mas de forma igualmente estruturante. Tudo caminha rumo à perfeição do seu Ser, no Homem de forma consciente, na natureza de forma inconsciente.
Por tudo isto, o pensamento de Bernard Lonergan é tão fascinante: apesar da diversidade dos assuntos tratados, que, para o comum dos pensadores actuais, ainda são antagónicos, impossíveis de conciliar, Lonergan encontra uma Unidade que flui ao longo de todo o seu pensamento.
Mas afinal o que é Desenvolvimento?

[1] Insight…
[2] Ibidem
[3] Ibidem
[4] Ibidem
[FALTA COMPLETAR AS CITAÇÕES]

terça-feira, 12 de junho de 2007

Darwin e a concepção de desenvolvimento. Extrato do meu trabalho

Charles Darwin (1809 – 1882), um dos expoentes máximos do Naturalismo, defendia que tudo o que existe é fruto de uma evolução a partir de um ancestral comum, que denominou de LUCA (Last Universal Common Ancestor), por meio de um processo de selecção natural e sexual. Ideias que ainda hoje sustentam e fundam a investigação e o conhecimento actual da Biologia.
A sua obra de referência, «On the Origin of Species by Means of Natural selection, or preservation of favoured races in the struggle for life», em português «A origem das espécies», publicada em 1859, em que Darwin sustenta as suas teses, como se perceberá, teve uma má recessão por parte da sociedade científica do seu tempo.O conceito de Evolução[1], para Darwin, não pode ser associado necessariamente ao de melhoria[2], é antes uma capacidade que os seres têm de se adaptarem face às condições do meio para não se extinguirem. Contudo, podemos afirmar que, segundo as circunstâncias, se se neutraliza a sua extinção, há uma melhoria pela conservação do Ser.

[1] “Darwin preteria o termo evolução em favor do termo descendência com modificação, pois não se sentia à vontade com a noção de progresso ou com a ideia de estruturas orgânicas «superiores» e «inferiores», uma vez que cada organismo se adapta bem ao seu meio ambiente como o homem ao seu.” – Artigo Marx, Darwin e o progresso, p. 4. Aqui será utilizado com esse sentido.
[2] Visão diferente tinha Marx, ele “não dissociava evolução de processo, pelo menos em termos de domínio crescente na história humana sobre as forças naturais…”. Artigo Marx, Darwin e o progresso, p.2.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Universo computável????

Para recusarmos liminarmente a possibilidade de todo o Universo ser computável, e, por arrasto, Deus poder ser considerado como um GRAAANDE computador temos que recorrer ao trabalho de Gödel. Gödel foi um matemático e lógico do século XX cujo trabalho acaba por abordar os limites da computabilidade, pelo menos nos moldes actuais. De facto, existem programas de computador que são facimente concebidos pelo nosso pensamento mas que não são computáveis.

Um exemplo fácil (é o exemplo referido num primeiro ano de Eng. Informática) é que não é possivel computar um programa que diga se um outro vai entrar em ciclo infinito. Se acrescentarmos a isto o facto de eu poder pensar neste programa, logo a minha consciencia é capaz de o conceber, vemos que os limites da computabilidade são mais restritos do que por vezes se pensa. Na verdade, existe na consciencia algum elemento que não é computável!

Mais informações sobre os fundamentos desta pequena observação.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Inteligencia Artificial Forte

Qual é a solução para o famoso problema mente-corpo? Será que para ela temos que utilizar uma solução de índole cartesiana, ou as substancias espirituias, e tudo aquilo que não é materialista não passa de uma mera ilusão?

Uma das posições materialistas mais vezes considerada como válida é aquilo a que se pode chamar de Inteligencia Artificial Forte (Strong Artificial Inteligence ou Strong AI), que passa no fundo por postular que um computador, se elevado à perfeição em termos de complexidade da máquina humana, e, correndo o programa certo, possuiria actos normalmente classificamos de mentais, tais como dor, prazer, crenças, etc.

A meu ver, tal visão é incorrecta, até porque nega a base de todo o agir humano: o tal Insight que Bernard Lonergan refere. Existe algo mais que permite aos humanos poder ter actos de intelecção, e esse algo não tem que ser necessariamente computável.

domingo, 3 de junho de 2007

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Protocolo da 13ª sessão

Participantes:

Prof. Doutor Mendo Castro Henriques

André Luís Gomes Martins

António Fernando Teixeira Cardoso

Bruno José Martins Domingos

Edgar Paulo Cadir

Fernando Manuel Marques Apolinário

Francisco Manuel Narciso

João Paulo Machado de Freitas

Martiniano Pedro Moutinho Rato

Paulo Alexandre Alves

Quintino Martins Trinchete

Ruben Dario Romero Ribeiro

A sessão iniciou-se com a leitura, discussão e correcção do protocolo relativo à sessão anterior. De seguida procedeu-se à continuação da leitura e análise do Epílogo da obra Insight de Bernard Lonergan.

Na parte que foi lida, Lonergan aborda qual pode ser o impacto da sua obra na teologia. Apesar de ser um teólogo, a obra Insight é escrita segundo a perspectiva do filósofo, sendo portanto uma obra de filosofia. Mas não é uma obra de filosofia que se isola num domínio concreto, como se construísse um sistema filosófico, mas sim uma obra que aborda aquilo que é o entendimento humano (daí o subtítulo).

Neste aspecto, Lonergan aponta três pontos principais sobre os quais a sua obra oferece contributos importantes:

1º ponto: A filosofia de Lonergan abre espaço para uma interpretação do dogma que não cai nos excessos dos fideístas que negam qualquer racionalidade na fé e que o acusam de ser frio, desprovido de caridade, nem nas críticas dos racionalistas que o acusam de ser irracional e infundamentado. Resta acrescentar que as criticas dos fideístas são muitas vezes causadas pelas contra-posições dos filósofos, como por exemplo Descartes, que fazem apelo a conceitos que são contra a experiência humana, como fazer depender a existência do pensamento humano: “Eu penso, logo existo”.

2º ponto: Em teologia, como no resto das ciências humanas, saber colocar correctamente um problema elimina per si uma série de falsas questões. É este um dos pontos que conduz a uma grande dificuldade na matemática: à preguiça que leva à pouca destreza dos alunos no cálculo junta-se a falta de eficácia em equacionar (colocar em equações) um problema. Neste domínio os povos orientais, como por exemplo a China e a Índia, têm um maior avanço, sendo a estes e não aos árabes, como muitas vezes se julga, que se deve atribuir muitos dos grandes avanços matemáticos, como, por exemplo, a “invenção” do número zero.

3º ponto: Há que saber colocar correctamente o lugar do mistério e, portanto, da própria fé. Já no concílio Vaticano I (1869-1870), se afirma que a fé é superior à razão (sessão III), embora não se negue que ambas são úteis para o conhecimento humano. Nas próprias palavras do concilio: “O sentimento perpétuo da Igreja católica defendeu também e defende que existe uma dupla ordem do conhecimento, distinta não só segundo o princípio mas também pelo seu objecto. Pelo seu principio, em primeiro lugar, porque numa conhecemos através da razão natural e na outra pela fé divina. Pelo seu objecto também porque, para além daquelas coisas que a razão natural pode alcançar, são-nos propostos para acreditarmos mistérios escondidos em Deus que, se não fossem divinamente revelados, não poderiam ser conhecidos” (DS §3015). Um dos reflexos desta relação fé-razão é o facto de, a partir daí, se começar a dar relevância ao estudo do texto bíblico para além da significação literal do mesmo, olhando, entre outras coisas, para o contexto em que o texto foi produzido.

De seguida, Lonergan faz uma importante distinção entre ser proporcionado e ser sobrenatural. Há aqui que fazer uma ressalva sobre o uso desta palavra, uma vez que o uso que Lonergan lhe dá foi caindo em desuso. Considerar que existe uma realidade que está para além da natureza é hoje uma distinção que não se utiliza. Ainda assim, o ser proporcionado à nossa consciência é abordado detalhadamente por Lonergan nos capítulos I – XVIII, ao passo que o ser não proporcionado (sobrenatural) é abordado nos dois últimos, sobre o nome de “Conhecimento Transcendental Geral” (General Transcendent Knowledge) e “Conhecimento Transcendental Especial” (Special Transcendent Knowledge). Um ponto que Lonergan frisa é que, dada esta distinção, o teólogo não necessita de explicar realidades de outros mundos para explicar a realidade do seu mundo. O teólogo não pode nunca reduzir as realidades da fé às do ser proporcionado. Explicar as realidades sobrenaturais como a Encarnação, a morada do Espírito Santo e a Visão Beatífica recorrendo a conceitos metafísicos proporcionados, sem manter a devida distinção e distanciação é um erro.

Como sabemos, Lonergan termina a obra Insight em 1957, antes da convocação do concílio Vaticano II (1959) e do seu período preparatório (1960). Podemos considerar que Lonergan é um dos teólogos que antecipa as ideias do Vaticano II, e dizer até que ele é o Filósofo do Vaticano II.

Foi ainda acrescentado, no final da sessão, que, ao longo do século XIX e XX, no esplendor da modernidade, a religião foi considerada irracional pelo senso comum, e a fé como sendo do âmbito do subjectivo e do pessoal. No entanto, antes da modernidade, até ao século XVII, pelo contrário, o facto da religião ser considerada como absoluta e até como indivisivel, provocou querelas e guerras religiosas. Desta forma, devemos considerar que, uma coisa é a doutrina da Igreja, que sempre proclamou a ligação entre fé e razão e outra coisa é o impacto social desta ligação, que varia com o ambiente cultural de cada época. Lonergan defende que todo o conhecimento humano se articula com a fé, não tendo por isso uma posição apologética. Termino com uma citação da encíclica Fides et Ratio de João Paulo II: “Uma filosofia que se desenvolve de harmonia com a fé, aceitando o estímulo das exigências teológicas, faz parte daquela «evangelização da cultura» que Paulo VI propôs como um dos objectivos fundamentais da evangelização. Pensando na Nova Evangelização, cuja urgência não me canso de recordar, faço apelo aos filósofos para que saibam aprofundar aquelas dimensões de verdade, bem e beleza, a que dá acesso a palavra de Deus” (Fides et Ratio §103).

Paulo Alexandre Alves

terça-feira, 29 de maio de 2007

PROTOCOLO DA 12ª SESSÃO

22 de Maio de 2007

Participantes:
Prof. Mendo Castro Henriques
André Luís Gomes Martins
António Fernando Teixeira Cardoso
Bruno José Martins Domingos
Carlos Manuel Lopez Rodriguez
Edgar Paulo Cadir
Fernando Manuel Marques Apolinário
Francisco Manuel Narciso
João Paulo Machado de Freitas
José Salvador Tivane
Júlio César de Magalhães Pereira
Martiniano Pedro Moutinho Rato
Paulo Alexandre Alves
Quintimo Manuel Trinchete
Ruben Dario Romero Ribeiro

A sessão iniciou-se com a leitura, debate e correcção do protocolo da sessão anterior. É conveniente lembrar a necessidade de cada um dos protocolos indicar com precisão o número da sessão a que se refere, a respectiva data e a assinatura do participante que o elaborou.
A primeira parte da sessão foi dedicada ao Blog do seminário e foi expresso, uma vez mais, o desejo de que cada interveniente colabore activamente nele. A participação activa engloba dois elementos: a produção e afixação de conteúdos e comentários (elemento que será tido em conta na avaliação global final) e a recepção usufrutuária dos conteúdos e comentários dos restantes pares. Este último aspecto foi focado partindo de uma expressão atribuída a Hegel que dizia ser a leitura matinal dos jornais diários a sua oração matutina. Com efeito, a forma como a generalidade dos blogs se desenrola remete-nos para o conceito da antiga meditação monástica.
Deixam-se à consideração dos intervenientes alguns aspectos a seguir propostos:
1) O uso do Blog deve ser frequente. A meditação individual era quotidiana. Tanto a meditação realizada de forma pessoal, como a oração comunitária das diversas Horas canónicas acompanhavam de forma permanente a vida dos mosteiros. Se o uso do Blog não for frequente poderá perder a sua vitalidade e actualidade e tornar-se um elemento desencarnado da realidade vivida no Seminário.
2) O Blog é sempre um acto que radica da experiência comunitária do Seminário. A meditação e toda a Liturgia das Horas tem o seu fundamento na experiência comunitária central da Eucaristia e procura mante-la viva ao longo das restantes horas do dia, chegando mesmo a substituí-la quando esta não se pode realizar. Assim, deve ser o Blog para o Seminário: uma possibilidade de continuidade da investigação e dos debates ocorridos aquando da reunião semanal dos seus participantes. Mais, poderá ser um bom substituto dela durante a interrupção lectiva para os exames da época de Verão.
3) As postagens devem ser concisas e interpelantes. Tanto a meditação individual como os momentos de meditação dentro das Horas canónicas distinguem-se da Lectio Divina e da leitura das Lições pelo facto de terem na sua base pequenas perícopas bíblicas que deviam servir de interpelação ao movimento da consciência orante que sobre elas se debruça em profundidade, mais do que em amplitude. Esta ruminatio da Palavra deve ser imitada na leitura do Blog e os conteúdos afixados devem, na sua forma e conteúdo, servir esse objectivo.
4) Os títulos devem espelhar o insight fundamental de cada uma das postagens. De cada meditação, aquele que faz a experiência orante deve trazer consigo um chavão que o remeta de forma evidente para o eco que a Palavra produziu no seu Espírito (o chamado "ramalhete espiritual"). Os títulos, tal como o "ramalhete espiritual", devem por em evidência o elemento mais significativo do qual a postagem é reflexo, ou para o qual a postagem nos remete e perpetuar nos sentidos o cerne da mensagem proposta.
Tendo em conta estes elementos, um Blog poderá ser um instrumento poderoso na luta que o "tempo lento" da reflexão, indispensável à maturação de qualquer movimento do pensamento e da consciência, trava contra a sucessão de momentos desencarnados do "tempo rápido" da vida hodierna.
A segunda parte do seminário debruçou-se sobre a relevância da questão acerca do conhecimento científico no âmbito do Seminário de Filosofia da Consciência em Bernard Lonergan. Porque razão é essa questão importante e porque a devemos tratar? A resposta é evidente se tivermos em conta o contexto do pensamento actual que se desenvolve no seio de uma sociedade em que o horizonte do conhecimento e da acção é o tecnológico.
As sociedades antigas eram sociedades cosmológicas, isto é, viviam no horizonte do cosmológico. As sua organização e estruturas basilares acentavam na procura da imitação da ordem pré-estabelecida no Cosmos. Habitualmente o poder era exercido de forma suprema por um rei estabelecido à imagem do ser absoluto divino que presidia ao cosmos. Os restantes elementos da organização social, de castas e de rituais sagrados eram definidos de acordo com o que era observado empiricamente nas realidades cósmicas e celestes.
Tudo isso é hoje passado e foi definitivamente ultrapassado pelo horizonte tecnológico. A ciência com base no método empírico da experimentação permitiu ao Homem a criação de técnicas e maquinaria que transformaram de forma radical as acções humanas e ampliaram exponencialmente as expectativas que o Homem tem da sua existência.
As capacidades dos sentidos humanos podem ser melhoradas, veja se o exemplo comum dos óculos. Alguém com problemas de visão não está hoje resignado à aceitação da sua maleita, aliás, produzem-se óculos capazes de corrigir e aumentar as suas expectativas face à capacidade visual. Mais, do primordial par de lunetas passou-se para a implantação de lentes artificiais no olho humano e do simples telescópio de lentes chegou-se até ao telescópio espacial colocado em órbita.
No domínio do conhecimento as ferramentas progrediram também de forma prodigiosa. Veja-se o uso quotidiano que nos fazemos do computador pessoal e de todas as suas ferramentas de tratamento e comunicação de dados... A web... E que surpresas nos trarão as investigações no âmbito da robótica e da inteligência artificial ?...
A este propósito emergiu no debate o pensamento de Gaston Bachelard que compreende a máquina como um teorema coisificado. A técnica é uma aplicação da ciência, isto é, a ciência feita coisa. As máquinas são criações do Homem que procuram liberta-lo das dificuldades de realizar uma tarefa. As máquinas da modernidade cumprem essa missão de tal forma que as expectativas das sociedades actuais são de uma ordem inaudita.
Na perspectiva enunciada, a revolução industrial em curso pressupõe uma uma revolução cientifica - que é simultaneamente sua possibilidade e causa - e remete-nos para uma questão do âmbito da antropologia filosófica (e, no fundo também da axiologia e da ética). Trata-se da reflexão acerca das novas expectativas do ser humano e, em particular, do facto de algumas delas poderem interferir de forma a causar transformações permanentes na identidade do ser humano e do seu cosmos.
Hans Jonas, na sua obra Das Prinzip Verantwortung: Versuch einer Ethik fur die tecnologische Civilisation (ver BUJPII), elege três realidades que são pressupostos novos para a antropologia filosófica:
1) as armas de destruição em massa, em particular a bomba atómica ou nuclear;
2) a industrialização acelerada e subsequentes emissões de carbono que podem provocar danos ambientais muito severos;
3) engenharia genética.
Estes três factos modificaram radicalmente a escala da intervenção humana. Actualmente a humanidade pode destruir-se até ao ponto da aniquilação, pode mudar radicalmente a natureza do seu planeta e, desde 14 de Abril de 2003, tem na sua posse o seu mapa genético completo!
No passado, a ética pedia-nos para sermos bons, justos, livres... Hoje, essa perspectiva foi sobremaneira ultrapassada. A nova ética reduziu a panóplia de princípios a um só: não importa o 'ser bom', o 'ser justo' ou o 'ser livre', mas sobretudo o 'ser', isto é, o 'existir', ou, dito de outro modo, importa a manutenção das condições da natureza humana. Jonas contraria as possibilidades tecnológicas de perversão da natureza humana em geral e sustenta a permanência da natureza humana em termos compatíveis com a visão criacionista.
Homem não queiras criar o homem à tua imagem!

Elementos da metafísica em Lonergan.

Como já vimos o ser é, em Lonergan, o objecto da metafísica. E os elementos desta são, segundo o mesmo autor, a potência, a forma e o acto.

Estamos, quanto à terminologia, como em Aristóteles. Mas não quanto aos conteúdos.

Lonergan trata potência, forma e acto como componentes do ser proporcionado a ser conhecido. E, então, a potência é o componente do ser proporcionado a ser conhecido no conhecimento plenamente explicativo, por uma experiência intelectualmente configurada do resíduo empírico; a forma é o componente do ser proporcionado a ser conhecido pela compreensão plena das coisas nas suas relações entre si; e o acto é o componente do ser proporcionado a ser conhecido pela articulação do sim virtualmente incondicionado do juízo razoável.

É pouco, muitíssimo pouco, acerca do muito que há para dizer sobre potência, forma e acto em Lonergan.

Noutra oportunidade avançarei no melhor delineamento destas figuras, desde logo indagando acerca do que seja o “resíduo empírico” e o “sim virtualmente incondicionado” do juízo razoável, aquele relativo à potência e este ao acto.

Sede desta matéria: cap. 15, fls. 1-2.


Por: Francisco Narciso


Mais sobre o senso comum

Como Ser inteligente, o homem é fiador da ordem pelo senso comum, e de forma espontânea , ele identifica o bem com o objecto do desejo, e este desejo não se deverá confundir com o impulso ou com o planeamento egoísta. Ainda que não se esqueça do seu interesse pessoal, mesmo assim a sua pessoa não é uma mónada leibniziana: porque nasceu do amor dos seus pais; cresceu e desenvolveu-se no campo gravitacional do afecto deles; afirmou a sua própria independência para se apaixonar e dotar-se com os seus acontecimentos humanos e das relações existem leis clássicas e estéticas que se combinam concretamente acumulados de esquemas de recorrência. As acções humanas são recorrentes; a sua recorrência é regular, e a regularidade é o funcionamento de um esquema, de um conjunto padronizado de relações do tipo: se um X ocorrer, então um X ocorrerá recorrentemente.

Numa revolução a violência é incontrolável; as leis perdem o seu significado; os governos emitem decretos que não são observados; até que o cansaço com a desordem acaba por dispor os homens a aceitar qualquer autoridade que se afirme de forma eficaz. Contudo, uma revolução é apenas um golpe momentâneo de paralisia no Estado. Os progressos da tecnologia, a formação de capital, o desenvolvimento da economia, a evolução do Estado não só são inteligíveis, como são inteligentes.

Após a obtenção da civilização, a comunidade intersubjectiva sobrevive na família com o seu circulo de parentes e o crescimento dos amigos, nos usos e costumes, em artes, ofícios e perícias fundamentais, na língua, nos cânticos, na dança, e mais concretamente na psicologia interior e na influência irradiante das mulheres.


AUTORIA DE: António Fernando Teixeira Cardoso

domingo, 27 de maio de 2007

Obras

Os registos da Universidade Gregoriana em Roma mostram que, a 6 de Dezembro de 1938, a tese de Lonergan intitulada "O pensamento de S. Tomás sobre a graça operativa" foi aprovada para apresentação em Teologia. A dissertação foi completada em 1940. Segundo as suas palavras, «…demorei anos até atingir a mente de S. Tomás de Aquino."1 Até 1949 continuou a publicar uma série dos artigos sobre a tradição tomista e, mais especificamente, sobre o processo de conhecimento. Nesses estudos deslocou-se das perguntas teológicas sobre a graça para as questões filosóficas sobre a interioridade, isto é, como Deus se revela na consciência.

Nos anos seguintes a 1949, Lonergan ocupou-se com a redacção de Inteligência: Um estudo do conhecimento humano, publicado em 1957. O livro tem 875 páginas na edição definitiva, da Universidade de Toronto; são muitos os que confessam nunca o ter lido por inteiro e poucos o leram completamente. É, de facto, um tratado filosófico que pretende levar a cabo uma integração dos conhecimentos humanos, tal como se apresentavam em meados do séc. XX, com uma soma e complexidade que ultrapassava em muito as situações epistemológicas racionalizadas por Platão e Leibniz. O escopo da obra é imenso: «A auto apropriação da nossa auto-consciência intelectual e racional começa como teoria cognitiva, expande-se para uma metafísica e uma ética, e avança para uma concepção e uma afirmação de Deus, para ser finalmente confrontada com o problema do mal que exige a transformação da inteligência auto-confiante no intellectus quaerens fidem Se de facto cumpriu estes objectivos, Inteligência tornou-se a mais importante obra de filosofia do séc. XX, como aqui procurarei indicar, apontando muito sucintamente as cinco principais temáticas da obra: a relação entre conhecimento e realidade, conhecimento científico e cosmologia, a acção humana e a ética, as questões de interpretação, a relação entre natureza de Deus e filosofia.

1 Insight, Epílogo, p.769



sexta-feira, 25 de maio de 2007

Entropia e Big Bang

A entropia designa o estado de complexidade de um sistema. Para percebermos melhor vamos fazer um café: pego em açucar e coloco na chávena, depois café moído. Se agora quiser voltar separar açucar e café, tenho que gastar muito mais tempo (energia) do que gastei a misturar as duas coisas. Se juntarmos água quente e quisermos reverter o processo.... é na prática impossivel. Dizemos desta forma que a entropia aumentou. A segunda lei da termodinâmica diz-nos que a entropia de um sistema aumenta sempre.

Se não partirmos de um estado inicial com uma entropia baixissima (tipo Big Bang), a probabilidade do Universo primitivo ser parecido com o actual é de . Para se ter uma ideia da extrema dimensão deste número, digamos que, se colocasse um zero em todas as partículas do Universo, não teria maneira de o escrever por extenso!

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Em relação à lectio divina

Podendo ser útil, deixo aqui um site que poderá ajudar quer para a reflexão diária quer para cada Domingo:

www.dehonianos.org

Para ser grande, sê inteiro!

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

quarta-feira, 23 de maio de 2007

A consciencia

A consciência é uma qualidade da mente considerando abranger qualificações tais como subjetividade, auto-consciência, sentiência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia, e ciência cognitiva.

Representação gráfica de consciência do século XVII.
Alguns filósofos dividem consciência em consciência fenomenal, que é a experiência propriamente dita, e consciência de acesso, que é o processamento das coisas que vivenciamos durante a experiência (Block 2004). Consciência fenomenal é o estado de estar ciente, tal como quando dizemos "estou ciente" e consciência de acesso se refere a estar ciente de algo, tal como quando dizemos "estou ciente destas palavras.
Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte.

Escala dos seres



Estas duas escalas mostram a localização no espaço e no tempo de vários elementos físicos. Os tempos e espaços mais curtos (Tempo de Planck e tamanho de Planck) são importantes, pois é aí que parece haver uma transição de regras físicas. De algum modo que ainda é desconhecido, a natureza, abaixo desses valores “escolhe” umas regras (a chamada mecânica quântica) e acima escolhe outras (Teoria da Relatividade Geral).

A localização dos valores humanos é de algum modo surpreendente. Não podemos esquecer que são duas escalas logarítmicas, ou seja, para falar de modo mais simples, são escalas que trabalham com potências, não com valores lineares (numa escala deste tipo, o tamanho de um homem e de um elefante não são muito diferentes). Assim, podemos dizer até que, quando vemos o homem como parte englobante do Universo até saímos bem na fotografia, ou seja, somos seres relativamente estáveis e até bastante “grandes”. A transição entre ambas as escalas dá-se pela velocidade da luz.

Fonte: PENROSE, Roger – The Large, the Small and the Human Mind, Cambridge: Cambridge University Press, 1997, p.4-7.

terça-feira, 22 de maio de 2007

O Que é a Consciência?

Por consciência entende-se uma apercepção imanente nos actos cognitivos.
Mas esses actos são de diferentes classes, e portanto a apercepção é de diferentes classes segundo os actos.
Situamo-nos assim no âmbito de uma consciência empírica caracteristica dos actos de sentir, perceber, imaginar. Assim como o conteúdo destes actos é meramente apresentado ou representado, assim também a apercepção imanente nos actos é meramente apresentado ou representado, assim também a apercepção imanente nos actos é a mera doação dos mesmos.
Mas há também, uma consciência inteligente caracteristica dos actos de indagar, inteligir e formular.

A velocidade é constante ou aumenta com o tempo?

Resolvido o problema da queda dos graves, Galileu partiu em busca de uma descrição mais precisa da queda livre - A velocidade é constante ou aumenta com o tempo?
O movimento de queda livre é muito rápido sendo impossível medir tempos de queda com um relógio de água - clepsidra. Atualmente, também, com um cronômetro comum de competição.
Galileu percebeu que num plano inclinado o movimento de queda reproduz a mesma estrutura da queda livre - diluindo a força da gravidade, sendo mais fácil medí-lo. E conclui que se os resultados obtidos num plano inclinado raso se mantivessem válidos em planos de maior inclinação, então, também, seriam válidos num plano inclinado de inclinação máxima ou seja a queda livre.
Devido às limitações tecnológicas de medição da época, Galileu associou métodos hipotéticos-dedutivos ao processo de medição experimental. Levantou a hipótese de que a velocidade deveria ser proporcional ao tempo de queda e deduziu que o deslocamentos deveriam ser proporcionais ao quadrado do tempo. Em conseqüência, os deslocamentos efetuados em intervalos de tempos iguais deveriam ser proporcionais à serie de números ímpares - 1:3:5:7:9:11... , tornando possível realizar medições com uma relógio de água.


Após inúmeras experiências sua hipótese foi comprovada e Galileu pode estabelecer a lei da queda dos corpos (desprezando-se efeitos provocados pela resistencia do ar) : A velocidade dos corpos em queda livre é proporcional ao tempo de queda.

Realizado por Bruno Domingos

Quando o Homem Quer

Sim, o homem é o seu próprio fim. E é o seu único fim. Se quer ser qualquer coisa, tem de ser nesta vida. Agora sei, aliás, que embora conquistadores falem algumas vezes de vencer e de exceder, o que eles querem sempre dizer é «excederem-se». Suponho que sabem o que isto quer dizer. Em certos momentos, todos os homens se sentem iguais a um deus. É assim, pelo menos, que se diz. Mas isto vem do facto de eles terem sentido, num instante, a espantosa grandeza do espírito humano. Os conquistadores são somente aqueles homens que sentem a sua força, o bastante para terem a certeza de viver constantemente nessas alturas e na plena consciência dessa grandeza. É uma questão de aritmética, de mais ou de menos. Os conquistadores são os que podem mais. Mas não podem mais do que o próprio homem quando ele o quer. É por isso que eles nunca deixam o crisol humano, mergulhando no mais ardente da alma das revoluções.

Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"

O ser em Lonergan

O que é o Ser em Bernard Lonergan?

Lonergan concebe a metafísica como «a estrutura heurística integral do ser»[1]. Deixemos para uma próxima oportunidade a aproximação ao conceito de metafísica deste autor e, retendo que ela tem por objecto o ser, vejamos como ele o entende.

Ser, diz Lonergan, «é o objecto do puro desejo de conhecer»[2]. E, concretizando, esse objecto é o ser proporcionado e o ser proporcionado «é tudo o que há para ser conhecido pela experiência, pela apreensão inteligente e pela afirmação razoável»[3].

É bom de ver que só aquele primeiro segmento, «tudo o que há para ser conhecido», se refere directamente ao que seja o ser; o segundo segmento, «pela experiência, pela apreensão inteligente e pela afirmação razoável», respeita ao como conhecer o ser. Contudo, mesmo o primeiro segmento, só formalmente nos diz o que seja o ser. É que afirmar-se que o ser «é tudo o que há para ser conhecido» nada nos diz acerca do que seja esse tudo.



[1] Insight, cap. 15, pag. 1.

[2] Insight, cap. 12, pag. 1.

[3] Insight, cap. 15, pag. 1.




Por Francisco Narciso

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Biografia de Bernard Lonergan

Lonergan nasceu em 1904 em Ontário, no Canadá; o seu pai era um engenheiro de ascendência irlandesa, e a família da mãe era inglesa. Aos 13 anos, trocou a casa pela Faculdade de Loyola, uma escola jesuíta em Montreal, e de lá entrou para o noviciado na cidade de Guelph. Frederick Crowe, S.J., director emérito do Instituto Lonergan, da Universidade de Toronto, descreve os primeiros anos de aprendizagem de Lonergan, esse estranho mundo anterior ao Concílio Vaticano II. Havia, diz, «leituras sobre a vida de Cristo e dos santos, a Imitação de Cristo, sobre documentos jurídicos e espirituais jesuítas, o velho fiel Afonso Rodriguez (1532-1617), a prática da perfeição e virtudes cristãs. Havia as instruções do mestre aos noviços . . . as "exortações" pregadas por austeros sacerdotes na comunidade, e assim por diante. Havia as penitências, publicação das faltas—admitidas voluntariamente ou indicadas pelos companheiros em agape transbordantes —e havia muita oração . . . a mais lenta de todas as práticas a aprender».

Era uma vida que ensinava a paciência, a disciplina, e o estudo sério, embora de modo um pouco rígido e restritivo; serão marcas do trabalho de Lonergan. Em 1926, Lonergan foi para Inglaterra estudar filosofia, regressando ao Canadá para ensinar na sua velha escola, em Montreal. De 1933 a 1937 licenciou-se em Teologia em Roma. Não tinha sido um aluno premiado, mas desenvolveu em Roma as ambições intelectuais exemplificadas por uma carta de 1935 a um superior: «Consigo elaborar uma metafísica tomista da história que ofuscará Hegel e Marx, apesar da enorme influência deles nessa obra. Tenho já escrito um esboço, disso como de tudo o mais. Examina as leis objectivas e inevitáveis da economia, da psicologia (ambiente, tradição) e do progresso . . . para encontrar a síntese superior destas leis no Corpo Místico.» Não escapará ao leitor que Hegel e Marx, não eram exactamente leituras recomendadas para um jovem sacerdote em Roma e, ainda mais, na Itália fascista. Mas fica bem claro como ele era já o indivíduo audaz, capaz de pensar sem imprimatur. E também fica claro que o corpo místico de Cristo, é desde S. Paulo, um dos conceitos mais integradores da teologia.

domingo, 20 de maio de 2007

PROTOCOLO DA 10ª SESSÃO

Participantes:
Doutor Mendo Castro Henrique
Edgar Paulo Cadir
Quintino Manuel Trinchete
José Salvador Tivane
Rúben Dário
Francisco Manuel Narciso
António Fernando Teixeira Cardoso
Bruno José Martins Domingos
Paulo Alexandre Alves
Júlio César de Magalhães Pereira
João Paulo Machado de Freitas
Martiniano Pedro Moutinho Rato.
Fernando Manuel Marques apolinário

A sessão começou com a apresentação do prtocolo da sessão anterior, seguindo-se a respectiva apreciação. Como o protocolo tivesse suscitado questões interessantes aos membros da sessão, houve um debate apreciável e eloquente, entre os membros presentes. Falou-se da questão das insuficiencias da razão, visto que,aos olhos do Teólogo, ela se completa pela fé. Nisto, é preciso manter um equilíbrio sem incorrer nos excessos de racinalismo ou da fé Incipiente. O próprio Fenómeno do acreditar Cristão difere-se do Islão,na medida em que o primeiro tem uma abertura à razão e a capacidade de diálogo com as demais religiões,enquanto que o segundo éunilateral nas suas convicçoes, verificando-se certa incapacidade de inter-diálogo com as demais religiões e com a racionalidade.
Na tentativa de fundamentar a questão em debate, ficou dito que a moderna historiografia fala-nos não de "invasões Bárbaras" mas de migrações dos povos; tal como na actualidade co-existem na europa comunidades de fé islâmica também no passado, a Europa cristanizada, recebeu comunidades emigrantes. O cristianismo, na sua abertura, mostra-se como aquela religião que, não tendo criado leis contra a escravatura, com o seu aparecimento ela vai desaparecendo gradualmente.
Finda a análise do protocolo, e do debate, seguiu-se o tratamento do Epílogo de Bernard Lonergan. No seguimento da sessão, referiu-se a Possibilidade de Ética Segundo Lonergan como similar a de São Tomás de Aquino, na medida em que ambos se referem à bens. Estes dois autores são tidos como aqueles que têm uma visão global das coisas. Retomado o Epílogo de Lonergan, verificou-se que nele está presente Uma Introdução à Teologia, também designda por Apologética. É nisto que se verifica que o católico,por um lado, não admite nem um racionalismo exclusivo do iluminismo, nem, por outro lado, as várias tendências irracionalistas que poderam ser verificadas desde o periodo medieval, através da reforma protestante (a referencia é o modo próprio de existência da Igreja enquanto instituição), até a sua manifestação aguda na reacçaõ de Kierkegayard ao Hegelianismo e nos contemporâneas tendências dialéctica e existencialista.
Assim, o Teólogo deve se empenhar, caso contrário, tornar-se-à num inútil, sem norte! O Teólogo é um Homem que procura estudar a filosofia com justiça. Contudo, o Teólogo é um trabalhador incansável, flexivel e dinâmico, capaz de se adaptar às várias ciências. Teólogo é aquele homem que sabe fazer uma simbiose das várias ciências e saberes. Seguidamente, ficou recomendado aos membros da sessão a leitura da segunda página do Epílogo de Bernard Lonergan, para uma postagem no Blog do Seminário de Filosofia Da Consciência.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Tempo é Mudança

O tempo é a dimensão da mudança. Sem percepção da mudança, não há e não pode haver percepção do tempo. E as diferentes atitudes para com o tempo são corolários de diferentes atitudes para com a mudança. (...) Vive-se bem a vida em camaradagem com o tempo, vendo-o como ele é, respeitando as suas obras, inclusive a decadência e a morte, com o passado e com a história. A restauração é uma autodecepção e frequentemente um crime. (...) O tempo é frequentemente destrutivo - como o são os escultores quando trabalham um bloco de pedra. Mas velhos rostos podem ser mais expressivos que rostos jovens, velhas paredes e esculturas mais ricas que as novas. ~
Walter Kaufmann, in 'O Tempo é um Artista'

A Velocidade do Tempo é Infinita

A velocidade do tempo é infinita, e só quando olhamos para o passado, é que temos consciência disso. O tempo ilude quem se aplica ao momento presente, de tal modo é insensível a passagem do seu curso vertiginoso. Queres saber porquê? Porque todo o tempo passado se acumula num mesmo lugar; todo o passado é contemplado em bloco, forma uma totalidade; todo ele se precipita no mesmo abismo. De resto, não é possível delimitar grandes intervalos nesta nossa vida tão breve. A existência humana é um ponto, é menos que um ponto. Só por troça é que a natureza deu a tão diminuta existência a aparência de uma grande duração, dividindo-a em infância, em adolescência, em juventude, em período de transição da juventude à velhice, finalmente em velhice. Tantos períodos num tão exíguo espaço de tempo!
(...) Habitualmente não me parecia tão veloz a passagem do tempo; agora, porém, parece-me incrivelmente rápida, talvez porque sinto aproximar-se o fim, talvez porque passei a dar-lhe atenção e a avaliar o desgaste que em mim provoca. Por isso mesmo me causa indignação ver como as pessoas gastam em futilidades a maior parte de uma vida que, mesmo dispendida com a maior parcimónia, não seria bastante para as coisas essenciais.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

terça-feira, 15 de maio de 2007

Como dizia Einstein....

"Todas as teorias físicas deveriam se prestar a uma descrição tão simples que até uma criança pudesse entender"

Einstein

Protocolo da 7ª Sessão

Participaram nesta Sessão:

Professor Doutor Mendo Casto Henriques

António Fernando Teixeira Cardoso

Júlio César de Magalhães Pereira

Fernando Manuel Marques Apolinário

Bruno José Martins Domingos

Francisco Manuel Narciso

Paulo Alexandre Alves

Ruben Dário

José Salvador Tivane

Edgar Paulo Cadir

Carlos Manuel Lopes Rodrigues

João Paulo

A sessão iniciou-se com a leitura, debate e correcção do protocolo da sessão anterior.

O site da disciplina já se encontra disponível, é importante consultar o site, isto porque este contem alguns conteúdos para downloads.

Devido há falta de comparência de alguns participantes na ultima sessão, o professor sugeriu que se revê-se quem e quais os temas que já estavam escolhidos, distribuídos.

Segue-se uma tabela com os participantes e os respectivos trabalhos atribuídos:

Participante

Tema do trabalho

Capitulo onde se encontra estes temas[1]

António Cardoso

Disfuncionalidade

Cap. 7

Júlio Pereira

O conceito de desenvolvimento na realidade

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Fernando Apolinário

Comparação entre os tipos de ciência

Cap. 3 e 4

Bruno Domingos

O que é a própria intelecção

Cap. 2

Francisco Narciso

Potência, forma e acto

Cap. 15 e 16

Paulo Alves

Espaço e tempo

Cap. 5

Ruben Dário

Senso comum

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José Tivane

Mal

Cap. 18 e 19

Edgar Cadir

Ética

Cap. 18

Carlos Rodrigues

Mito e mistério

Cap. 17

João Paulo

A noção e a crença

Cap. 20

Nesta mesma sessão o professor ao sugerir temas de trabalho indicou entre outros o tema da ciência.

A Ciência (do latim scientia, conhecimento) é o conjunto de informações sobre a realidade acumuladas pelas várias gerações de investigadores depois de devidamente validadas pelo método científico. Também se designa por ciência o processo de recolha e validação de informações sobre a realidade.

A propósito da investigação científica, surgiu a questão entre os participantes de como relacionar a teoria cientifica da criação com a doutrina da criação judaico-cristã.

O Criador e o Big Bang

O Criador - A primeira dedução lógica que podemos fazer sobre o Universo é a existência de um Criador. As leis que governam a Natureza são tão simples e lógicas que se torna praticamente impossível que tudo que exista seja obra do acaso. Portanto, deve haver uma inteligência suprema que, de alguma maneira, projectou e executou esse maravilhoso empreendimento, que é o Universo.

O Supremo Arquitecto do Universo, na sua omnisciência, convida o Homem em sua eterna busca a tentar explicar os mistérios da Natureza. O Homem, por sua vez, na sua ânsia de saber, procura compreender a génese da criação, atribuindo-lhe vários nomes, formas, e até mesmo, sentimentos envolvidos nesse processo de manifestação, em busca de poder aprender os mistérios e desígnios da mente divina, o que é inexplicável por ser incompreensível. Assim, entramos no âmbito metafísico, o que vai além da obra do Criador.
Em todas as deduções lógicas que faremos aqui, tentaremos torná-las verdadeiras através da busca por consistências baseadas no método científico, que tem como objectivo verificar, por comparação, a compatibilidade entre elas e os dados observacionais verdadeiros fornecidos pela Ciência. Sendo assim, aquela nossa primeira dedução a respeito da existência de um Criador não pode ser considerada legítima com base no método científico. Mesmo assim, podemos aceitá-la por ser fruto do bom senso. Portanto, o leitor tem a flexibilidade para acreditar que o Universo também possa ser obra do acaso, o que não vai comprometer a aceitação das várias outras deduções que faremos no transcorrer desse livro.

"Deduções Lógicas", que forma um elo de conceitos e ideias simples e lógicas, não tem a pretensão de mergulhar nesses mistérios metafísicos que transcendem a criação, e sim apenas tentar compreender a arquitectura do Universo, cuja história foi e continua sendo mal interpretada até os dias actuais.
Tudo começou há mais ou menos 13,7 biliões de anos, que é a idade do Universo, conforme a conclusão mais recente publicada pela NASA, com um erro aproximado de 1%.

No início, o Criador reuniu em apenas um ponto todo o material necessário à sua grande obra. Esse ponto é denominado de Singularidade Primordial, onde foi colocada toda a energia que constitui o Universo actual, sendo que, ao mesmo tempo foram criadas as leis fundamentais que regulam o funcionamento e a dinâmica dessa energia, manifestando-se nas várias modalidades a serem estudadas mais adiante.

O Big Bang - Como já havia sido dito, toda a matéria do Universo em forma de energia estava contida num ponto ou singularidade inicial. Então, esse ponto explodiu, espalhando um caldo de energia pura em todas as direcções, dando início ao processo de expansão do Universo, como afirma a Ciência.
De acordo com "Deduções Lógicas", a força dessa explosão inicial durou um certo tempo, e enquanto isso, ela foi a responsável pela aceleração de todas as energias que lá havia. Nesse mesmo tempo, cada quantum de energia percorria uma certa distância adquirindo uma certa velocidade, sendo que as velocidades são proporcionais às distâncias percorridas por cada quantum.
Essa fase inicial do Universo, quando ele estava num processo de aceleração durante um certo tempo, pode ser bem comparada com aquela ideia simples de um gás que se expande sob pressão, sendo que este se encontra dentro de uma esfera de tamanho (raio) crescente, representando o próprio universo em expansão, sendo o centro da esfera o local do Big Bang. Sendo assim, à medida que a esfera (universo) cresce, a pressão do gás vai diminuindo até desaparecer.

A partir desse momento em que a pressão se anula, termina a fase de aceleração. Cada partícula desse gás continua se afastando do centro da explosão com sua própria velocidade já adquirida pelo impulso inicial do Big-Bang, pois aquela força inicial cessou. Dessa forma, o Universo entra numa nova fase, sendo que cada quantum (grãozinho) de energia dentro da referida esfera adquire uma velocidade de expansão (Ve), cujos valores são proporcionais às suas distâncias ao centro da esfera. Logo, quanto mais longe do centro o quantum estava no momento em que deixou de actuar a pressão, maior foi a velocidade de expansão (Ve) atingida por ele. Nessa situação, a única força que poderia agir sobre essas partículas seria a força da gravidade, retardando ou desacelerando o movimento dessas. Ao contrário do que possamos imaginar, a grande explosão que originou o Universo não emitia som e nem sequer clarão de luz.

Pode dizer-se que o tempo começou com o big bang, no sentido em que os primeiros momentos não podiam ser definidos. Deve sublinhar-se que este começo no tempo é muito diferente dos que tinham sido considerados previamente. Num universo imutável, um começo no tempo é uma coisa que tem de ser imposta por algum Ser exterior ao Universo; não há necessidade física de um começo. Pode imaginar-se que Deus criou o Universo em qualquer momento do passado. Por outro lado, se o Universo está em expansão, pode haver razoes de natureza física para um começo. Podia continuar a imaginar-se que Deus criou o Universo no instante do big bang, ou mesmo depois, de tal modo que o big bang nos pareça ter ocorrido, mas não teria qualquer significado supor que tinha sido criado antes do big bang. Um universo em expansão não exclui um Criador, mas impõe limitações ao momento do desempenho da Criação!

Ainda poderíamos insistir em perguntar: "O espaço foi criado naquele momento da explosão?". "Se existe o Criador, então onde ele estava?" As respostas dessas e de muitas outras indagações não têm relevância, pois nunca saberemos os mistérios insondáveis do Criador.

Lisboa, 18 de Abril de 2007-04-17

Fernando Apolinário



[1] MEYNELL, Hugo A. – An Introduction to the Philosophy of Bernard Lonergan. 2ª Edição, Londres: Macmillan Academic and Professional Ltd, 1991